da Redação Com 76 anos, a energia e a vitalidade de Nawal El Saadawi é contagiosa. Ela demonstrou isso no Congresso Mundo de Mulheres, realizado em Madri. Os olhos desta lutadora egípcia pela liberdade e a igualdade transmitem uma inesgotável curiosidade. Deixou a psiquiatria para se dedicar plenamente à literatura. Autora de A face oculta de Eva (1970) [Global Editora, 2002], Mujeres y sexo (1972) ou Mujer em punto cero (1973), foi destituída de seu posto de diretora de Saúde Pública e a revista que editava, fechada. Continuou escrevendo e falando em público sobre a situação da mulher árabe e os direitos humanos. Em 1981, foi presa. De dentro da prisão continuou escrevendo, do jeito que pôde, já que foi privada de papel e lápis. Depois de sair da prisão, em 1983, fundou a Associação Solidária de Mulheres Árabes para “tirar o véu das mentes” das mulheres árabes. Segue a íntegra da entrevista publicada no El País, 09-07-2008. Quais são os problemas das mulheres no mundo árabe na atualidade? A desigualdade. Não haverá igualdade se não houver igualdade entre os países e as classes. 60% da população egípcia vive abaixo do nível de pobreza. A maioria são mulheres, solteiras, mães com filhos, que trabalham para dar de comer à sua família. Além disso, as mulheres têm que enfrentar também o renascimento dos fundamentalismos religiosos; quer sejam islâmicos, cristãos ou judeus. Em qualquer caso, a mulher é oprimida. As mulheres sempre são oprimidas pelas religiões. Sofrem problemas econômicos, políticos, religiosos, problemas para se casar ou problemas vinculados ao véu. O véu é uma imposição? Sim. Há um passo para trás em relação ao véu e à circuncisão fomentados por parte de todos os fundamentalistas religiosos. Muitas mulheres no Egito tiveram uma ablação. Não tem nada a ver com uma religião particular. Os fundamentalistas cristãos também impõem a ablação das meninas. Costuma-se dizer que são as mulheres que preservam a mutilação genital como tradição. É verdade. São as mulheres que praticam a ablação. São as escravas dos escravos. O homem também é um escravo. Entretanto, a esposa aparece como a escrava do marido. O sociólogo francês Alain Touraine afirma que a mulher terá um papel predominante na sociedade nos próximos 500 anos. Acredita nisso? Espero que não sejam mulheres como Condoleezza Rice! Ou Margareth Thatcher, Hillary Clinton, Madeleine Albright, Angela Merkel, Golda Meier... São mulheres de direita, que acreditam no patriarcalismo. Mulheres opressoras que oprimem outras mulheres. Que tipo de mulher irá liderar as sociedades? Não basta ser mulher! É preciso defender a justiça. Espero que a sociedade seja dirigida por progressistas em geral, homens e mulheres. Você foi candidata nas eleições presidenciais no Egito... Foi um gesto simbólico. Utilizei o meu programa eleitoral para conseguir uma visibilidade maior. Quando a polícia me proibiu de fazer campanha eleitoral pude dizer que deixava a campanha e denunciar que não existia verdadeiro sistema democrático. A política global está relacionada ao feminismo. Não há separação entre a dominação sofrida pelas mulheres e a dominação que impera no mundo. Não é possível separar os assuntos de gênero dos outros temas. Como vê o mundo na atualidade? Não há justiça. O poder que domina o mundo é o militar, o econômico, o dos homens, das religiões. Está se usando Deus para oprimir as pessoas, as mulheres e os pobres. Vivemos na selva e temos que lutar contra isso. *Tradução do Cepat.