Artistas brasileiros e crianças refugiadas pedem paz na Síria em apresentação musical no Cristo Redentor

Qui, 16/03/2017 - 11:31
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Cerca de 50 crianças refugiadas uniram suas vozes a de cantores e de mais de 20 atores e atrizes brasileiros para pedir o fim da guerra na Síria, que completa seis anos em 15 de março.

Cerca de 50 crianças refugiadas uniram suas vozes a de cantores e mais de 20 artistas brasileiros para pedir o fim da guerra na Síria, que completou seis anos na quarta-feira (15). Em apresentação no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, um coral de meninos e meninas de 12 países encantou o público do ponto turístico ao lado dos músicos Tiago Iorc, Maria Gadu e Elba Ramalho. O ato pela paz foi organizado pelo "Amor Sem Fronteiras", movimento liderado por Daniele Suzuki.

"Devemos nos lembrar daqueles que mais sofrem por causa desta calamidade: os 4,9 milhões de refugiados, os 6,3 milhões de deslocados internos e outras milhões de pessoas dentro da Síria que vivem um medo diário por causa desta guerra e da desumanidade que ela tem criado", afirmou a representante do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, Isabel Márquez, em pronunciamento durante a cerimônia.

Atualmente, o Brasil é o lar de cerca de 2,5 mil sírios já oficialmente reconhecidos como refugiados pelo governo.

Entre as crianças que se apresentaram na capital fluminense, estavam não apenas jovens sírios, mas também refugiados do Iêmen, Irã, Sudão do Sul, República Democrática do Congo e outros países em crise.

Com interpretações de "O Sol", de Milton Nascimento, e "Aquarela", de Toquinho, os cantores mirins alegraram a manhã de turistas e cariocas, mas também transmitiram uma mensagem de alerta: o medo de estrangeiros que fogem da guerra não leva a nada.

Para o ator Murilo Rosa, ajudar vítimas de guerra "é uma responsabilidade de todos". "Cabe a cada um de nós garantir que não haja mais barreiras que impeçam um ser humano de tentar salvar a própria vida", disse.

"Milhares de crianças sírias estão nos arredores de fronteiras que permanecem fechadas. Elas estão vivendo expostas às mais graves e terríveis violências, enfrentando graves ameaças. São crianças que precisam de proteção e compaixão, e não podem viver abandonadas dessa forma", lamentou a atriz Malu Mader.

Daniele Suzuki ressaltou que mais da metade dos refugiados sírios espalhados pelo mundo são crianças. "É uma realidade que nos faz questionar a humanidade", afirmou. A atriz decidiu fundar o "Amor sem fronteiras" por perceber que muitos brasileiros não tinham consciência de que o mundo enfrenta "uma das piores tragédias humanitárias dos últimos tempos". Com a iniciativa, ela conheceu o trabalho do ACNUR e outras instituições de acolhimento, entre elas a ONG IKMR que é especializada no atendimento de crianças refugiadas.

O objetivo do movimento é mobilizar a classe artística e o setor privado para apoiar os refugiados que vivem no Brasil, quanto para difundir os desafios enfrentados pela população deslocada. Hoje, a iniciativa já conta com o apoio de mais de 150 artistas. Alguns deles compareceram ao ato pela paz e levaram seus filhos para cantar junto com as crianças refugiadas.

O Brasil acolhe atualmente cerca de 9 mil refugiados e, segundo o último levantamento feito pelo CONARE, mais de 25 mil solicitantes de refúgio. Crianças e adolescentes de até 18 anos representam cerca de 18% da população de pessoas refugiadas.

Os meninos e meninas refugiados que participaram do ato fazem parte do Coral Coração Jolie, uma iniciativa da organização não governamental "I Know My Rights" (IKMR), parceira da agência das Nações Unidas.

Refugiada síria sonha com a paz

"Só o Brasil abre as portas para a gente". É a impressão de Asmaa Al-Syouf, refugiada da Síria que teve de deixar o país em 2012 por causa da guerra. Há quase três anos em terras brasileiras, ela chegou aqui com o marido e os três filhos. As crianças estavam entre os jovens do Coração Jolie.

"Os brasileiros não perguntam 'por que vocês vieram para o meu país, por que vocês estão aqui?', eles dizem 'bem-vindos!'", comentou a refugiada sobre a recepção calorosa que recebeu quando veio para o Brasil.

Asmaa conseguiu reconstruir a vida por aqui e abriu um restaurante de comida árabe com o marido, em Mogi das Cruzes. Seu sonho, porém, é voltar ao país onde nasceu e onde ainda vive parte da família. "Eu só quero que a Síria volte a ser o que era antes."

Isabel Marquez elogiou as políticas do Brasil para acolher refugiados sírios. "Um projeto não muito conhecido, mas muito significativo e único e que há poucos países que fazem, é o programa de vistos humanitários. Desde 2013, 2,5 mil refugiados sírios chegaram (ao Brasil), portanto, salvaram suas vidas", afirmou.

Segundo a representante nacional do ACNUR, governo e ONU planejam reassentar outros 3 mil sírios, incluindo crianças. As Nações Unidas, o Estado brasileiro e parceiros da sociedade civil estão avaliando qual seria a melhor maneira de trazer esses refugiados para o Brasil.

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