No dia 18 de agosto, o Icarabe trouxe a São Paulo o embaixador Arnaldo Carrilho, com uma longa lista de serviços prestados à diplomacia brasileira. Desde 1965, quando foi Terceiro Secretário da Missão Transitória em Argel, tomou contato com a complexa política que envolve os países árabes no âmbito das Relações Internacionais. Agora em 2006, exerceu talvez um dos mais difíceis papéis para um embaixador. Carrilho foi o representante brasileiro junto à Autoridade Palestina. Ele morava em Jerusalém Leste e trabalhava em Ramalah. “A maior dificuldade é tratar a Palestina como uma nação, mas é obrigação de qualquer embaixador fazê-lo”. O embaixador considera a questão da região o centro das relações internacionais e políticas da atualidade. Sua resolução seria desfazer o nó mais decisivo para desatar a ordem política que se instituiu no Oriente Médio de hoje. De um lado os crimes cometidos por Israel, do outro a conivência de governos árabes. “Esta é a questão nacional número um do mundo, da equação das relações internacionais”. E faz uma sugestão: “Se você for à Gaza de automóvel, protegido por guardas fortemente armados, você vai entender por quê. Estamos diante do maior campo de concentração ao ar livre da história da humanidade. 1,4 milhões de pessoas em Gaza, no momento agora em que conversamos, não tem liberdade de ir e vir, nem de dormir, pois os aviões F-16 israelenses passam a cada instante rompendo a barreira do som e apavorando idosos e crianças, ensurdecendo bebês”. E os palestinos , além da ocupação, sofrem com um outro problema: a falta da solidariedade dos governos árabes. Ali, não haveria uma unidade de ação ou de tomada de posições dos árabes em relação aos abusos e crimes de Israel. Jordânia e Egito estariam mais voltados para o próprio umbigo do que para o cumprimento de leis internacionais ou ao fim de abusos que ofendam o direito humanitário. O embaixador também incomoda-se com o modo que a eleição do Hamas foi tratada. Eleitos por muçulmanos e cristãos como uma forma de protesto. Carrilho, por ofício de sua posição, foi conversar com o primeiro-ministro Ismael Haniyeh, do Hamas. Foi “muito bem recebido” e conversaram por cerca de 30 minutos. Quinze a respeito de futebol – Haniyeh foi jogador da seleção palestina – e quinze sobre a Trégua. “Esta foi provavelmente a eleição mais transparente do mundo árabe, atestada por parlamentares brasileiros que observaram o processo. Foi um protesto diante do mundo e o mundo respondeu o quê? São terroristas e tem que sofrer boicote”. *Correção realizada no dia 4 de outubro.