por Eva Bartlett, de Gaza, para a Electronic Intifada 17 janeiro de 2009 É duro acreditar que pode vir a ser pior, mas acontece, diariamente. Semana passada, vi as nuvens de fósforo branco sobre as quais os médicos escreveram e as quais condenaram. De um prédio alto na cidade de Gaza, a vista panorâmica mostrou uma linha de veneno que se espalhava, a leste. O químico queima profundamente, no osso, dizem os especialistas. É considerado um instrumento de guerra ilegal, que não pode ser usado em áreas civis. Ainda assim, os registros de seu uso crescem: uso pesado na região Khosar, leste de Khan Younis, e no noroeste de Gaza, e na parte leste de Jabalyia, Sheik Zayid, Sheik Rajleen, al-Zaitoun, em todos os lugares. O quartel-general das Nações Unidas abrigando centenas de palestinos fugidos e que foi bombardeada em 15 de janeiro foi atingido por fósforo branco. “Cinco dias atrás, em Jabalyia, vi um material anormal: pó branco, espalhado em círculos que giravam, o que o espalhava ainda mais adiante. De dentro, havia alguma coisa caindo parecida com neve. Cobria uma larga área, sobre muitas casas”, Maher al-Madhouan, chefe do departamento de fisioterapia do hospital Sheik Radwan disse-me semana passada. No hospital Al-Shifa, o Dr. Nafez Abu Shabaan, chefe do departamento de queimados, disse que receberam casos de queimados como nunca haviam visto antes. “Não estamos familiarizados com queimaduras de fósforo, mas alguns pacientes têm queimaduras muito profundas, muito estranhas”. Ele cita o caso de um paciente enviado para um scan do cérebro que, três horas depois, ainda vivo, “voltou esfumaçando”. Em um quarto, Lada, 20, está deitada com um olhar sem expressão, metade de sua bonita face e pele macia manchadas com queimaduras e bolhas. Sua mão direita está enfaixada, o que faz com que a extensão de suas queimaduras seja julgada por sua mão esquerda sem ataduras, com queimaduras expostas e dedos inchados. Um relatório médico descreve suas queimaduras: lado direito da face e da cabeça; braço, mão, lateral, abdômen e perna direitos. Aparentemente o químico incendiário atingiu-a pela direita. 43% da superfície total de seu corpo está coberta por essas queimaduras. Ela vem de Siatta, norte da área noroeste de Attatra, onde uma invasão de tanques agora acontece, ainda na sua primeira semana. Às 16h de 4 de janeiro, Lada e sua família estavam dentro de sua casa quando esta foi bombardeada por tanques israelenses. A bomba que aterrissou dentro de sua casa atingiu toda a área próxima a Lada. Nesse tempo, ela estava sentada com Mara, sua filha de três anos, que sobreviveu à explosão com queimaduras igualmente desfigurantes e dolorosas. Um círculo de um vermelho-raiva marca a face de Mara, seu nariz, orelhas e testa, e corta 22% da superfície de seu pequeno corpo. Ali, 4, Yusuf, 17, e sua mãe também sofreram queimaduras na face e no corpo causadas pelas bombas e os químicos. “Toda a casa foi ocupada por fogo e uma fumaça preta, diferente da fumaça normal do fogo. Era difícil respirar e nossas gargantas incharam”, um irmão, não ferido, relembra. A bomba, que escoriou a pele de quatro membros da família, matou mais cinco, incluindo o pai de Lada, 44, três irmãos mais novos, 10, 11, 13, e uma irmã, ainda bebê, de um ano e meio, que a mãe segurava no momento em que foram atingidas. Ambulâncias foram chamadas e foram impedidas de chegar. Membros sobreviventes das famílias foram colocados em um trator, dirigido por um dos primos de Lada. Ele e outro primo, ambos de 18, foram alvo de soldados israelenses, disse a mãe, e mortos. O resto da família não teve opção a não ser andar por trinta minutos antes de conseguir transporte a um hospital para tratamento. *Eva Bartlett é advogada de direitos humanos e freelancer que passou oito meses, em 2007, vivendo na Cisjordânia e quatro entre o Cairo e a fronteira de Rafah. Está atualmente na Faixa de Gaza depois de ter chegado com o terceiro barco do movimento Free Gaza, em novembro. Para mais notícias, vá ao site da Electronic Intifada: http://electronicintifada.net/