Mona Anis é jornalista do Al-Ahram Weekly, a versão inglesa e semanal do diário egípcio de mesmo nome. Nascida no Cairo, viveu durante 20 anos na Inglaterra e ali pôde observar com os próprios olhos o orientalismo, na sua forma descrita por Edward Said, em ação. Antes da Inglaterra, quando ainda vivia no Cairo, militava em movimentos de esquerda seculares, que agora estão dando lugar a organizações islâmicas com projetos políticos de resistência, como o Hizbollah. Neste mês de setembro, após participar da 7ª Bienal Internacional do Livro de Fortaleza, Mona veio a São Paulo a convite do Icarabe para ministrar a palestra “Imprensa internacional e imprensa árabe”. Nesta, destrinchou a idéia hegemônica que domina qualquer abordagem que a mídia faz em relação à região e a seus conflitos: o choque de civilizações. “Uma idéia criada por Bernard Lewis, e não por Samuel Huntington, como nos lembrava Said”. Em sua palestra, destacou como essa fabricação do choque e de diferentes e incompatíveis culturas e “civilizações” legitimam barbaridades, como o que foi feito por Israel no Líbano. Na entrevista que concedeu ao Icarabe, em uma manhã de domingo, dois dias antes de voltar para o Cairo e para suas funções no Al-Ahram weekly – “uma forma de contar a nossa narrativa para o Ocidente, da forma como Said entendia esse conceito” – Mona Anis falou dos recentes ataques ao Líbano, como o Hizbollah, na conjuntura do atual conflito, está mais ligado aos palestinos do que ao Irã – idéia que se pretende vender à opinião pública – e como o grupo islâmico, por ser uma fonte de mudança comparável à Teologia da Libertação Católica, é mal-vista tanto pelo conluio Israel-Estados Unidos como pelos regimes árabes.