Documentário espanhol registra descendentes árabes no Brasil

Ter, 31/08/2010 - 15:37

Entre os dias 4 e 8 de outubro, a Casa Árabe da Espanha realizará uma semana de atividades e eventos dedicados à presença árabe na América Latina. Entre as atrações estará a produção cinematográfica "Os caminhos do mascate", do espanhol José Luis Mejias, que passou um mês no Brasil entrevistando descendentes de árabes. “Minha intenção é expor a integração que ocorreu no país entre os imigrantes e as comunidades locais. Mostrar que atualmente essas pessoas não são nada diferentes dos descendentes de europeus que também vivem lá”, conta. Mejias acredita que no imginário ocidental, principalmente na Europa, onde há o impacto de um grande número de imigrantes recentes, o mundo árabe é estancado, antigo e fanático.

De alguma maneira, a realidade no Brasil contraria toda essa ideia, por isso o diretor coloca em seu filme entrevistas com descendentes de árabes de diversas regiões do país que trabalham em áreas diferentes. Entre eles estão o escritor Milton Hatoum, os professores universitários e pesquisadores Soraya Smaili e Michel Sleiman, o músico Sami Bordokan, entre outros. Para desenvolver o trabalho ele procurou evitar um “olhar classificador”, estereotipado, como o que liga o árabe apenas às relações de comércio, “o homem da feira e da pechincha”, explica Mejias. Apesar disso, ele não pretende se desfazer da figura do mascate, mas sim resgata-la e mostrar suas contribuições positivas para o comércio brasileiro, para a indústria e também para a política.

“A integração é possível, é saudável e traz uma série de benefícios às culturas envolvidas. Hoje, todas essas pessoas, apesar de manterem relações com suas origens, se consideram brasileiras”, complementa.  

 

O fotógrafo

Com 36 anos, Mejias mora em Madri e é formado em Economia e Administração de empresas, tendo experiência com atividades na área de marketing e economia social. Aos 32 anos ele viajou para países da Ásia e acabou se interessando pela fotografia. Aos poucos começou a elaborar projetos próprios, adotando um olhar antropológico. “Isso quer dizer que procuro ver outras culturas de forma comum. Para mim, ‘o diferente’ não é exótico e estar num lugar que não é o meu, também não é uma aventura”, diz o fotógrafo.

Assim, a reflexão antropológica tem norteado os seus trabalhos. Em 2009 ele venceu um concurso promovido pela Casa Ásia, na Espanha, e recebeu financiamento para viajar ao oeste da China, onde ficou dois meses fotografando e estudando comunidades nômades que vivem na região.

Além das fotos, seus trabalhos também incluem textos. "Neles procurei ironizar esse olhar típico do Ocidente sobre as outras culturas. Um olhar que dramatiza e que coloca o outro como estranho e extravagante”, argumenta. Ele diz ainda que suas fotografias são voltadas ao público geral. “Não faço fotojornalismo e meu estilo não combina com as galerias de arte. Minha arte é popular, contemporânea e tem intenção divulgativa”, classifica.Festas Juninas - José Luis Mejias

Ainda em 2009, ele veio ao Brasil, para o Estado do Maranhão, desenvolver um projeto sobre festas juninas. “Aproveitei e inclui no trabalho a questão da miscigenação”, conta. Mejias esteve pela primeira vez no país em 2006, quando veio conhecer Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Agora, o fotógrafo tem em mente desenvolver no Brasil um projeto que relacione a cultura árabe e o samba no país. “