12ª Mostra Mundo Árabe de Cinema: “São gerações separadas por um buraco negro”, afirma diretor de filme sobre a Guerra Civil Libanesa

Sex, 11/08/2017 - 14:17
Publicado em:

O diretor e roteirista do documentário libanês “Yamo (2011)”, Rami Nihawi, participou de um bate-papo com o público na última quinta-feira, 10 de agosto, no Cinesesc no “Cinema da Vela”, atividade da programação da 12ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, que está em cartaz até 16 de agosto. A Mostra é realizada pelo ICArabe (Instituto da Cultura Árabe) e pelo Sesc-SP (Serviço Social do Comércio de São Paulo), com o copatrocínio da CCAB (Câmara de Comércio Árabe-Brasileira).

O filme “Yamo” (assista ao trailer aqui), inédito no país, é um retrato da Guerra Civil do Líbano (1975-1990) e seus efeitos psicológicos na memória coletiva do país e no cotidiano das pessoas que sofreram com suas terríveis consequências. A mãe de Rami, que aparece no documentário, participou do conflito como militante do Partido Comunista Libanês, enquanto seu pai foi guerrilheiro.

“Fazia muito tempo que eu não via o filme. Agora pude assistir, após anos, com um distanciamento, e isso me trouxe reflexões sobre o porquê de fazer o filme e envolver a minha família”, afirmou o diretor, que também é produtor de “Fora de Quadro: Revolução até a vitória (2016)”, outro filme presente no festival (veja aqui o trailer).

De acordo com o cineasta, foi difícil assistir novamente ao seu filme por conta de sua mãe ter falecido entre a produção e a nova exibição. Em cena do documentário, ele e a mãe conversam sobre como ela gostaria de ser sepultada.

A produção mostra o sentimento de “fracasso” dos que perderam a guerra, como seus pais, e o conflito deste sentimento com a segunda geração, da qual faz parte. “O filme, na verdade, foi uma conversa entre duas gerações que nunca havia acontecido na minha vida. Duas gerações separadas por esse buraco negro chamado guerra civil”, explica. “Acho que não tive coragem de ir até o fim no confronto com a geração da família dos meus pais”, reflete.

Nihawi afirmou não ter conversado muito com os pais sobre a experiência da guerra. “Esse silêncio também me provocou. Sabia de histórias e, de uma maneira vaga, sei que meus pais se envolveram. Cresci vendo meus pais, não como militantes, mas como derrotados. Cresci fazendo questionamentos sobre as ideias que defendiam e a derrota que interiorizaram”, afirma. “Onde a minha geração pode achar forças para construir a sua própria luta?”, questionou.

O debate também teve participação do curador da Mostra, Geraldo Adriano Campos, e de Lúcia Ramos Monteiro, que foi curadora da Mostra África(s): Cinema e Revolução.

 “Quando assisti a “Yamo” pensei em como a catástrofe está na temática. Esse buraco negro, o buraco da guerra, como Nihawi falou, é o que impossibilita qualquer transmissão. Fazer o filme foi um gesto muito corajoso”, elogiou Lúcia.

Campos convidou o público a aproveitar os outros filmes da Mostra e também falou sobre o espetáculo Al-Mu’tamid, poeta-rei do Al-Andalus (1040/1095) - Uma Viagem por dez séculos de música e interculturalidade”, inédito no Brasil exibido pelo festival no sábado, 12 de agosto, na Sala São Paulo (http://www.mundoarabe2017.icarabe.org/blog/28). 

“A Mostra se propõe a sair do exótico, sair do que está fora da ótica e chegar até a familiaridade. Parece que esse mundo (a cultura árabe) está longe, mas não está”, afirmou.

Confira a programação da Mostra no site http://www.mundoarabe2017.icarabe.org/programacao