Milton Hatoum fala sobre literatura e cinema em encontro com o público da Mostra

Dom, 16/08/2015 - 19:49
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O escritor Milton Hatoum participou, na última sexta-feira (12), dentro da programação da 10ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, de um bate-papo com o público que assistiu ao filme “Lavoura Arcaica” no Cinesesc-SP.  A conversa, mediada pelo curador da Mostra, Geraldo Adriano Godoy de Campos, e com participação do presidente do ICArabe, Salem Nasser, fez parte da sessão “Cinema e Literatura” da Mostra, em homenagem ao escritor Raduan Nassar e aos 40 anos da publicação da obra no qual o filme foi baseado.  

“São tantos os filmes que nós conhecemos que não passariam no circuito comercial. É importante ter uma visão do mundo árabe na visão dos cineastas”, disse sobre a Mostra o escritor amazonense descendente de libaneses. 

Para o escritor, é importante levar às pessoas o que não seja “cultura de massa” fabricada pela mídia, no processo chamado de “Indústria Cultural”.  “Daí a importância da Mostra Árabe de Cinema”, ressaltou. 

O presidente do ICArabe Salem Nasser, que participou do debate, destacou a importância de Hatoum e Nassar para a cultura. “Os dois recusam a ideia de que a utopia teria morrido e isso é sempre impressionante para mim”, disse. “Há uma falta de apetite absoluta contra as injustiças do mundo. Isso [o pensamento dos escritores] é muito rico.”

Além de Salem Nasser, o vice-presidente do ICArabe, José Farhat, e Soraya Smaili, reitora da Unifesp e idealizadora da Mostra, prestigiaram o evento.

Literatura, cinema e TV

Hatoum e Nassar têm em comum o fato de possuírem um livro adaptado para outras linguagens pelo diretor Luiz Fernando Carvalho: além de “Lavoura Arcaica” o Carvalho dirigiu a minissérie “Dois Irmãos”, baseada na obra de Hatoum, que deve estrear em 2016 na TV Globo.

Hatoum comentou a adaptação de seu livro para a TV. “É uma linguagem diferente, são recursos diferentes, não se encontra todo o romance. Luiz Fernando soube contemplar o clima do livro”.

Para o escritor, a adaptação de livro em vídeo é como se fosse uma “tradução”. “O diretor, com os seus recursos técnicos, coloca a sua leitura. Mas há coisas na literatura impossíveis de filmar. Não se consegue transportar toda a complexidade psicológica dos personagens”, afirmou. “Uma minissérie na Globo atrai milhões de pessoas. Não sei se traz muitos leitores. Espero que as pessoas saiam do (livro) “50 tons de cinza” para o Dois Irmãos”, brincou. 

Hatoum, no entanto, afirma gostar dessa adaptação entre formatos. “Sempre gostei do (livro) “Vidas Secas” (de Graciliano Ramos) desde jovem e fiquei emocionado quando assisti ao filme.”

“Lavoura Arcaica” e “Dois Irmãos” contam histórias de relacionamentos familiares.  Em 2001, o filme “Lavoura Arcaica” ganhou prêmios no Festival de Brasília e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 

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