Professor da Universidade de Zaragoza debate arabismos nas línguas portuguesa e espanhola

Sex, 28/10/2011 - 12:54
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O Instituto da Cultura Árabe, ICArabe, em parceria com o Programa de pós-Graduação em Estudos Judaicos e Árabes da USP e o Instituto Cervantes de São Paulo, promoveu, no dia 21 de outubro, uma palestra com o Professor Federico Corriente Córdoba.
 
Arabista e semitista da Universidade de Zaragoza, Espanha, Federico Corriente estuda a civilização árabe na Península Ibérica, com ênfase nos aspectos históricos e sua influência nas línguas ibéricas.

Autor de várias obras sobre as influências árabes na Espanha, abordará em sua palestra os arabismos nas línguas portuguesa e espanhola com uma perspectiva histórica, tratando do passado e presente nas relações entre o Ocidente e o Mundo Árabe.

Leia abaixo o comentário de Michel Sleiman, professor do Departamento de Letras Orientais da USP e diretor do ICArabe, sobre o conteúdo da palestra.
 
Tanto no português como nas demais línguas neo-românicas, os termos de origem árabe vinham sendo estudados com base no registro elevado da língua árabe, o árabe clássico, língua efetivamente literária e formal que nunca chegou a ser a língua espontânea dos falantes do mundo árabe, incluída a enorme porção árabe-muçulmana da península ibérica medieval, o chamado Alandalus.

O recurso metodológico de buscar os arabismos no árabe clássico levou muitas vezes  a uma errônea avaliação qualitativa e quantitativa desses termos. No entanto, nas três últimas décadas, esses estudos foram impulsionados com as modernas pesquisas linguísticas e o consequente conhecimento dos dialetos falados em Alandalus que, logo na Era Moderna, se converteria em Espanha e Portugal.

O arabista e semitista professor da Universidade de Saragoça, D. Federico Corriente Córdoba, aproveita os resultados desses estudos e localiza no feixe de dialetos árabes e romances andalusinos as condições de conformação, evolução e transmissão dos arabismos nas línguas portuguesa, catalã, galega e castelhana, que em vários estágios de sua evolução estiveram em contato com a língua árabe e a civilização que veiculou e engendrou.

Na nossa língua, dentre o conjunto de mais de 3 mil palavras ou expressões de origem árabe verificável, causam especial interesse os arabismos, especialmente os denomináveis arabismos tabu, que foram transmitidos pelos mouriscos mais pobres, sobejamente os condutores de gado, no Portugal dos séculos XIII ao XVII, num momento em que o árabe era vivo o suficiente para ser bem ouvido e repetido, mas já não tão bem entendido pelos cristãos ou novos conversos dos jovens Espanha e Portugal. Dessa condição, gerou-se aí um conjunto de palavras e expressões vivazes e de uso comum e generalizado do nosso cotidiano, que, nalgum dia, puderam ser impronunciáveis.