Iraque - 4 anos sob ocupação

Seg, 12/03/2007 - 00:50
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Parte 1 - Estupro e execuções

Corpos continuam a empilhar-se nas ruas de Bagdá enquanto Maliki prepara conferência regional no Iraque. Registros de casos de estupro por forças de segurança do Iraque não cessam e contam com a conivência do governo para encobri-los.por Nermenn El-Mufti De acordo com autoridades iraquianas, 1646 civis morreram por causa da violência em fevereiro, abaixo dos 1992 de janeiro. Ainda que oficiais iraquianos e estadunidenses digam que o nível de violência diminuiu, desde que a Operação Imposição da Lei foi colocada em ação, 59 civis iraquianos ainda morrem por causa da violência no dia-a-dia, muitos deles em Bagdá. Poucos dias atrás, um jornalista iraquiano proeminente foi assassinado em frente a sua casa no oeste da capital. O editor-executivo do jornal Al-Mashreq, Mohan Al-Taher, era um xiita casado com uma sunita. Al-Taher era conhecido por suas visões anti-sectárias. Um carro-bomba explodiu na rua Al-Mutanabbi, em Bagdá, matando 24 pessoas e ferindo 40. Enquanto isso, mais de 1000 tropas iraquianas apoiadas pelos Estados Unidos entraram na cidade Al-Sadr no leste de Bagdá, base do Exército de Al-Mahdi, acusado por muitos atos de violência sectária. De acordo com autoridades iraquianas, a colocação das tropas ocorreu pacificamente. As forças estadunidenses dizem que um acordo foi alcançado com as autoridades municipais da cidade Al-Sadr para estabelecer um centro de segurança comandado pelos Estados Unidos na vizinhança. Os corpos de 14 oficiais de polícia, que foram seqüestrados na estrada Al-Khales ao norte de Bagdá na última quinta-feira, foram encontrados. Um grupo que se autodenomina o Estado Islâmico do Iraque assumiu responsabilidade pelas mortes em uma declaração colocada na Internet. O grupo, que se acredita ter ligações com a Al-Qaeda, diz que as mortes foram uma vingança pelo estupro de uma mulher sunita, Sabrin Al-Bayyati. Antes, o Partido Islâmico fez declaração dizendo que a mulher em questão era xiita e se chamava Zeinab, e que Sabrin era seu pseudônimo. Enquanto isso, uma campanha internacional ocorre para parar a execução de três mulheres iraquianas acusadas de “terror”. Os envolvidos na campanha dizem que as mulheres, acusadas de apoiar ou ser parte da resistência iraquiana, deveriam ser tratadas como prisioneiras de guerra ou liberadas. O governo iraquiano, dizem, é uma extensão da ocupação e não pode levantar acusações criminais de crimes contra o Estado enquanto a ocupação existir, pois isso anula sua jurisdição nacional. Essa semana, duas mulheres de Bagdá e de Tel Afar apareceram na televisão, dizendo que policiais as estupraram. Uma dessas mulheres disse que cinco policiais a prenderam e estupraram e disseram a ela que era acusada de ajudar terroristas. O primeiro-ministro ordenou uma investigação do caso, mas o comitê de investigação, que anunciou suas conclusões apenas horas depois que a mulher em questão fez sua aparição na televisão, disse que os examinadores médicos descartaram estupro. Três mandados de prisão foram feitos contra a mulher, disseram autoridades iraquianas. A família dela negou que ela tivesse passado por exames médicos. Em Tel Afar, uma outra mulher, 40 anos, mãe de 11, apareceu na estação de televisão Turkoman para dizer que oficiais de polícia a estupraram, filmaram o estupro e ameaçaram colocar o filme na Internet, a não ser que ela trabalhasse para eles como informante. Recentemente, a polícia tem revistado casas em Tel Afar, onde 500 mil iraquianos turcos vivem, em busca de terroristas. Partidos Turcomanos, incluindo a Frente Turcomana, reportou declarações denunciando brutalidade policial. Mohamed Al-Deini, um parlamentar da Frente de Diálogo Nacional, disse ter provas de que 60 mulheres foram estupradas por forças de segurança do Iraque. De acordo com o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, cerca de 60 casos de estupro foram registrados nos últimos três meses do ano passado, além dos 800 casos de molestamento sexual. Em um caso, uma estudante universitária disse que oficias de polícia a estupraram e ameaçaram matar seu irmão se ela reportasse o incidente. Enquanto o plano de segurança continua no Iraque, esforços pela reconciliação nacional são colocados em curso. No último domingo, ex-oficiais iraquianos foram convidados para uma conferência, a quarta do tipo. Cerca de 600 oficiais do desmontado exército iraquiano apareceram para o evento. De acordo com Rashid Al-Nasiri, o organizador da conferência, o evento foi um passo em direção à reconciliação. Centenas de milhares de ex-oficiais agora esperam ser ou reintegrados ao exército ou receber pensões. Do primeiro-ministro Nouri Al-Maliki, espera-se que renove seu gabinete diante da Conferência de Bagdá, prevista para acontecer a partir de 10 de março. Síria, Irã, Egito e representantes da Liga Árabe e do Conselho de Segurança da ONU vão comparecer à conferência. Os iraquianos estão otimistas, mas Jenan Ali, um especialista de assuntos iraquianos, disse que ela pode se concentrar mais nas tensões entre Estados Unidos e Irã do que nos problemas iraquianos. De acordo com uma fonte iraquiana, alguns dos ministros representando o grupo de Al-Sadr devem deixar o gabinete. Os ministros da Saúde e da Educação – ambos afiliados a Al-Sadr – podem deixar o país depois da prisão do representante do ministério da Saúde Hakem Al-Zamli. Al-Zamli foi acusado de financiar esquadrões da morte. Enquanto isso, o partido Lista Iraquiana de Iyad Allawi ameaça se retirar do processo político, a não ser que o atual governo abandone seu viés sectários, acabe com a corrupção e trabalhe pela unidade nacional. Allawi visitou o norte do Iraque na última semana com o embaixador dos Estados Unidos. Alguns dizem que esse foi um sinal de que os Estados Unidos apóiam a liderança de Allawi para formar uma nova coalização política. O analista político Raad Al-Hodeithi disse que os Estados Unidos estão prontos a fazer qualquer coisa para acabar com sua precária situação no Iraque. As forças estadunidenses têm atacado a cidade de Al-Taji, 10 km a noroeste de Bagdá, em uma tentativa de matar ou prender atiradores que derrubaram dois helicópteros estadunidenses nas proximidades mês passado. De acordo com a última conta, 3170 soldados estadunidenses morreram no Iraque desde março de 2003. (Traduzido por Arturo Hartmann - Texto originalmente publicado na edição 835 do Al-Ahram weekly)