Retratos da realidade palestina atrai mais de 500 pessoas*

Qui, 04/12/2008 - 16:50
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Evento que apresentou 11 filmes sobre a vida naquela região, retratos complexos da vida sob ocupação e diversas formas de domínio através de olhares humanistas, teve como destaque debate entre especialistasPor Sandra Caselato, de Foz do Iguaçu Com a proposta de elucidar as principais questões relacionadas ao conflito entre Israel e Palestina, a mostra de cinema “Palestina 1948-2008: 60 anos da Al Nakba”, ocorrida nos dias 28 e 29 de novembro e realizada pelo ICArabe, com apoio da Itaipu Binacional, da Sociedade Árabe Palestina Brasileira de Foz do Iguaçu, da Faculdade Uniamérica e do restaurante Bistrô da Praça, exibiu uma série de 11 documentários e filmes de ficção. As obras cinematográficas escolhidas, pouco vistas no circuito comercial, ofereceram ao público a oportunidade de conhecer melhor o assunto. Os filmes versaram sobre realidades não chapadas pelas realidades políticas, mostraram o sofrimento palestino em toda a sua complexidade e humanidade, fosse através de cenas fortes e violentas, situações angustiantes, como a do pequeno Jamal, de apenas 9 meses, que teve que viajar por toda Cisjordânia para realizar uma cirurgia de coração, demonstrando a dificuldade por que passa o sistema de saúde palestino, no filme “Coração Aberto”, até a história de “De futebol e sonhos”, em que jogadores se esforçam em jogar por um time sem pátria reconhecida. Espalhados pelo mundo, juntam-se por algum tempo do ano para dar forma a identidades pessoais e nacional. No primeiro dia, a exibição de filmes começou às 15h, no shopping Cataratas JL. Ao final do dia, às 20h, aconteceu um debate com grandes autoridades sobre o tema, que abordaram a “imagem e realidade do conflito Israel/Palestina”. O debate foi considerado o ponto alto do evento. Mediada pelo pesquisador de Oriente Médio Adnan El Sayed, a mesa redonda teve as presenças do sociólogo Emir Sader (Conselho Latino Americano de Ciências Sociais), da historiadora Arlene Clemesha (Instituto da Cultura Árabe), de Ualid Rabah (Federação Árabe Palestina do Brasil) e do professor Yuri Haasz. Cerca de 300 pessoas assistiram ao debate, lotando a sala de cinema e participando ativamente com perguntas e colocações. Após a introdução ao tema, feita pelo mediador, Ualid Rabah tratou do histórico do conflito e relacionou uma série de acontecimentos que marcaram os conflitos na esfera política e nos momentos de batalha. Ainda relatou momentos marcantes da resistência palestina e destacou a importância de se buscar apoio de todos para ações que possam forçar Israel a cessar os ataques e invasões. “O que se precisa questionar é: quantas cidades foram varridas do mapa, quantas aldeias (foram mais de 1.200), quanta história foi enterrada e destruída? Quantos cadáveres de palestinos e quanto refugiados foi preciso fazer para se instalar cada assentamento judeu? Sabemos que mais cedo ou mais tarde, os criminosos vão estar no banco dos réus”, disse. Falando de sua experiência vida, o Prof. Yuri Haasz tratou de demonstrar as conseqüências nocivas da manipulação ideológica. Tendo nascido em Israel, o pesquisador identificou as diversas instâncias em que o povo israelense é manipulado pelas instituições educacionais, pela mídia e pela própria estruturação cultural em geral. Falou de vários mitos, amplamente difundidos pela população como se fossem verdades, que impedem que os israelenses tenham acesso à realidade do conflito e se conscientizem que é o Estado de Israel que oprime o povo palestino, sendo responsável pelo início e manutenção do conflito. A professora Dra. Arlene Clemesha fez uma análise histórica dos processos de “limpeza étnica” que ocorrem na região, citando documentações de historiadores israelenses que confirmam que o movimento sionista executou a expulsão do povo palestino de maneira violenta, e muito bem planejada. “Essa colonização, que foi apoiada pela Inglaterra, veio com uma ideologia de não explorar a população, mas para apropriação da terra associada à conquista do trabalho. A conquista do trabalho significava que nos empreendimentos judeus não se usasse mão de obra árabe. Se você tira a terra, o trabalho, a sobrevivência, eles são obrigados a procurar a subsistência em outro lugar”, citou. O Dr. Emir Sader ressaltou que o conflito israelo-palestino é um dos quatro pilares da luta dos EUA pelo domínio de fontes de energia. Falou também que o conflito deve ser encarado como uma causa humanitária e diz respeito ao mundo todo e não somente às pessoas que estão diretamente envolvidas. “Não falo como professor ou filho de libanês, mas como ser humano. Nessa condição é que temos que nos perguntar: que mundo é este que cria uma realidade tão cruel e tão solitária, que é a condição dos palestinos? Eu acho que ser humanista hoje é ser palestino, é se identificar com os humilhados, com os ofendidos, com os expropriados e com os escondidos, porque outros escondem seu sofrimento e sua miséria. É inaceitável que o mundo veja o que vimos hoje em um dos filmes, uma criança de 10 anos de idade, se questionando se a vida vale a pena”, criticou. *Atualizado dia 15 de dezembro, às 15:06