Revista traz edição que foge de preconceitos aos árabes

Qui, 20/04/2006 - 13:50
Publicado em:

Textos caminham por diversos assuntos: literatura, filosofia, arquitetura, uma análise geopolítica da atualidade e de conflitos, como o da Palestina.A região dos países árabes - no Oriente Médio ou norte africano - é invadida ou ocupada, tem riquezas e pobrezas, tem governos autoritários, radicais islâmicos e ares de uma sensualidade inerente. Esse “palco” orientalista foi construído, principalmente, através dos séculos XIX e XX, e hoje é montado nas manchetes e chamadas da imprensa ou nos fotogramas dos cinemas. O árabe é exposto e (des)construído diariamente, mas essa excessiva e construída exposição oculta grande parte o que é a cultura árabe e o que é o ser árabe. E mesmo essa definição - ao contrário do palco que se montou sobre a região - do que seria uma cultura árabe, não tem uma estrutura final, nem poderia ter. A revista EntreLivros, da editora Duetto, lançou no mês de abril edição especial “Para entender o mundo árabe”. Os textos procuram lançar um olhar ao máximo despido de preconceitos, estereótipos e clichês que geralmente acompanham qualquer abordagem de alguém que viva para as bandas a oeste do mundo. A idéia nasceu de uma pauta jornalística – de Oscar Pilagallo, editor da revista - que listava uma série de dúvidas e curiosidades que surgem para uma pessoa que conhece o mundo árabe apenas pelos noticiários. “Fiz uma pauta inicial, jornalística, de quem não conhece profundamente a cultura árabe, mas da perspectiva de quem gostaria de conhecer”. A pauta inicial do editor ainda não tinha uma forma estruturada, mas já apontava para dois objetivos de Oscar: por um lado, fazer uma edição abrangente histórico-cultural, que discutisse a cultura árabe não só em seus aspectos presentes, mas buscar na história a sua genealogia, e por outro fugir dos preconceitos e dos estereótipos do “palco” orientalista. “Como é a questão da filosofia, quais são os autores que foram influenciados, como é a literatura além das Mil e uma Noites?”. Com a pauta inicial, o editor realizou conversas com Mamede Jarouche, professor de Língua e Literatura Árabes da USP e tradutor da primeira versão do “Livro das Mil e uma Noites” direto do árabe para o português, que levaram à estruturação da edição e da definição de como seriam organizados os assuntos e como seriam escolhidos os autores dos textos. Foram dezesseis articulistas que lançaram reflexão sobre os mais diversos assuntos: uma panorâmica geral sobre a cultura árabe e seu caminho desde antes do surgimento do islamismo e seu caminho depois de Muhammad, a história da evolução do império Muçulmano, a filosofia, literatura, o pensamento místico, poesia, arquitetura, política e um retrato da geopolítica atual. A realização da tarefa de explicar e esclarecer equívocos sobre a cultura árabe não é fácil. Para Mamede Jarouche, existe uma confusão generalizada criada principalmente por informações da mídia em geral. “Existe uma confusão generalizada, coisas acríticas, informações equivocadas da imprensa, generalizações, preconceitos. Confundem religião com o fato de ser árabe, juntam esferas diferentes”. Entre os articulistas estão Arlene Clemesha, Ligia Rocco, Ricardo Musse, Michel Sleiman, Safa Jubran, Isabelle Somma, Miguel Attie e Sylvia Leite.