Primeiro épico da história da humanidade nasceu no atual Iraque

Qui, 25/08/2005 - 17:50
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Trama já abordava questões como amor, soberba, medo da morte, busca da juventude, amizade, características básicas do que viria a ser chamado de civilização.Gilgamesh foi rei de Uruk, que pertencia ao local onde habitavam os sumérios, terras que hoje conhecemos como Iraque. Os sumérios foram os inventores daquilo que seria identificado como a primeira forma da escrita na humanidade. A reputação de Gilgamesh era a de um mau governante, que exacerbava seu poder e era injusto com as pessoas. Além de inebriado pelos dotes de sua posição política, era filho de pai-humano e mãe-deusa. Se acreditava imortal, invencível. Mas no caminho do rei estaria Enkidu, um meio-humano, meio-animal. A relação entre os dois diferentes, o olhar de um sobre o outro, despertaria em ambos as angústias da vida, os sentimentos de amizade, bravura, mas também a percepção de que ela tem um fim. O épico é um dos primeiros registros artísticos de uma civilização humana. No enredo, há passagens de amor, amizade, soberba, medo da morte, busca da juventude, da imortalidade, características do que viria a ser chamado de civilização. Safa Jubran, do departamento de Letras Orientais e do curso de árabe da USP, explica que “Gilgamesh é considerado um dos primeiros registros artísticos e a temática principal é a não conformação do homem com a morte, isto é, a sua luta para alcançar a vida eterna. Um Deus-homem, Gilgamesh, e um Animal-homem, Enkidu, e desse convívio nasce uma amizade que transforma ambos em homens, humanos”. O épico é a primeira grande metáfora conhecida sobre as relações humanas, temas que ganhariam novas versões e contextos, mas que permaneceriam como as angústias das civilizações. Estudos dão conta de que a história do rei de Uruk foi contada pela primeira vez há cerca de 4000 anos, já que as lendas e mitos sobre Gilgamesh datam do ano 2000 a.c. na língua suméria, escritas sobre tábuas de argila. A Ilíada, narrativas nascidas no que viria a ser a Grécia, ganharam sua versão por volta de 1000 a.c. As histórias sumérias a respeito de Gilgamesh foram agrupadas em um poema longo, em versões das quais sobreviveram não só através da língua Acadiana (língua semítica, falado pelos babilônios, que dominaram os sumérios), mas também pelo grego e outras línguas indo-européias. A versão mais completa é aquela do Acadiano e que deriva das 12 tábuas de barro, encontradas nas ruínas da biblioteca de Achurbanipal, rei de Assíria, por volta de 669-633 a. C., em Nineveh. HISTÓRIA REAL - O personagem principal da trama parece ter existido de verdade. Há indícios de que um Gilgamesh reinou em Uruk por volta do 2700 a.c., na Babilônia, região da Mesopotâmia. Safa aponta uma outra particularidade do épico: as tábuas de argila que continham a primeira versão da história de Gilgamesh estavam assinadas por um autor, “fato raríssimo nos tampos antigos”.